quinta-feira, 27 de maio de 2010
representações falsas de Lúcia David
E já no sábado, em Abrantes, a nova exposição de Lúcia David, intitulada "Representações Falsas de Coisas Familiares".
Uma poderosa colecção de objectos e textos que nos remetem para um universo que muitos de nós prefere ignorar convenientemente.
Aqui, nas peças carregadas de cáusticas ironias, são um deleite para os olhos e para o espírito.
Lúcia David é uma artista a ter em conta. O seu trabalho tem força e mostra bem o poder que a Arte tem de transformar situações e objectos em testemunhos vibrantes, quando há vontade para sacudir a poeira da indiferença que teima em se acumular em todos nós.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Porto: novo livro de Richard Zimler
Haverá também sessões, com a presença do escritor nos seguintes locais:
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Contos da Diferença no Porto
Depois de Ourense e Braga, o livro Contos da Diferença, colectânea de contos resultado de uma inictiva do blog Tangas Lésbicas, vai ser apresentado no Porto.
O local escolhido é o emblemático e boémio Gato Vadio, onde pelas 22 horas de sábado próximo, a professora Luísa Saavedra falará sobre a obra e moderará o debate.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Livros de Artista em Odivelas
domingo, 23 de agosto de 2009
Amor (diferente de) Amor
Dou por mim levando a cabo duas experiências que, mesmo sem intenção, e desligadas uma da outra, acabam por dialogar. Durante uma semana fui lendo As Amantes, de Elfriede Jelinek, nas viagens de metro. E num desses dias à noite pus a tocar uns CDs da Céline Dion guardados há anos na gaveta (que tem um fundo de vergonha). Demorou pouco até me ocorrer que os textos panfletários da escritora austríaca são outra face da moeda partilhada com as canções da diva canadiana.
Mulheres ávidas da segurança de um bom casamento, mulheres apaixonadas por homens brutais que perseguem amorosamente, porque acreditam poder amansá-los. Mulheres sem referências que não as masculinas, sem vontade que não a do homem, sem vida própria além dos filhos e dos casamentos. Mulheres que assim não podem amar, que chamam amor ao medo e à subserviência, que se esgotam no marido e nos filhos que secretamente odeiam. Mulheres exemplares. Que servem de exemplo. Mulheres fiéis e persistentes que são recompensadas. Mulheres que perdem o tino, que se oferecem a outros, que desistem do amor, e que acabam abandonadas.
Com as histórias de Paula e Brigitte, Elfriede Jelinek demarca as possibilidades de vida das mulheres austríacas nos anos 70. As perspectivas de miséria, maus tratos paternos e trabalho duro faziam com que qualquer rapariga encontrasse na ideia do amor um refúgio, na figura do homem um herói, no casamento uma aventura feliz. Com a concretização deste ideal, chegam também, no caso de Paula, os horrores de uma gravidez indesejada, os abusos e insultos com que toda a aldeia a brinda, a apatia e crueldade do marido. O casamento é o camisa de forças de que não sai, mas dentro da qual, ao menos, será respeitada, até que homens estranhos lha arrancam, e o adultério a condena de imediato à prostituição.
Brigitte calcula melhor a sua jogada, ao apostar num homem com negócio próprio. É-lhe fiel durante o namoro, atura-lhe os apetites por sexo e comida, instiga-o a fazer-lhe um filho e, mesmo que deseje limpar a retrete com a cabeça dele de cada vez que ele lhe toca, é feliz. Domou o homem. Alcandorou-se a ele de modo a conseguir a liberdade - a reclusão no lar parece-lhe doce, comparada com a reclusão na fábrica de costura onde, sem aquele casamento, poderia ficar toda a vida.
Pela pintura de semelhantes frescos, muitos consideram obscena, grotesca ou descabida a obra da vencedora do Nobel da Literatura em 2004. Vistas à lupa da escritora, as relações entre homens e mulheres são uma espiral de violência que termina nos filhos, até que estes crescem e perpetuam, por sua vez, o mesmo modelo escravizante de amor e sexualidade. É difícil acreditar que assim seja. Que aquilo que nos apresentam como amor possa ter uma arrecadação tão escura como a que Jelinek momentaneamente ilumina, para nosso horror. E para maquilhar e perfumar o feio amor, há cantores como Céline Dion, que colocam ao serviço do idílio uma voz capaz de encantar milhões de pessoas em todo o mundo.
Céline Dion, exemplo acabado e universal da cantora romântica, pode dizer-se, é uma resistente. Vinda de um velho mundo em que tudo estava definido entre homens e mulheres, a diva dói-se de que as coisas tenham mudado, dói-se da inconstância dos afectos humanos (Pour que tu m'aimes encore). Enfeitiçada pelos homens da grande cidade, mas com a pedra dos ensinamentos maternos no sapato, a mulher que estas canções encarnam tenta contrariar as actuais tendências, seduzindo o amante, negociando, na esperança de que ele, afinal, acredite ainda no amor eterno e estável (Make you happy). Nos seus álbuns, há pouco lugar para a promiscuidade, e quando ela aparece é para que lhe vejamos as nefastas consequências (All by my self).
Há principalmente, por estas bandas, a aceitação da dependência emocional, a rejeição da autonomia, o medo da solidão, a assunção de que apenas no amor se pode ser feliz. Todas as cantoras românticas o fazem, ainda que as letras sirvam de pretexto para alguma coisa que a voz tem de moldar, e pareçam inofensivas. Músicos e intérpretes de todos os estilos o fazem. É impossível dissociar o amor do amor à música pop. E é a certeza com que todos crescemos, de que há um romance perfeito à nossa espera, para enquadrar a nossa vida, e de que é preciso chorar muito por aquele que se perde, porque é um milagre que não soubemos perpeturar por mais do que um tempo determinado. O que Jelinek diz nos seus livros é aquilo de que, em adultos, começamos a suspeitar - o amor tem os seus contornos menos nítidos, guarda lugar para o ressentimento, para o ódio, para a desconfiança, para a dependência, para o calculismo, para a (auto)destruição. Principalmente se chegamos até ele com a fome que as canções cultivaram em nós desde crianças.
sábado, 15 de agosto de 2009
Novos títulos nos escaparates
Senhora Oráculo, Margaret Atwood
Originalmente publicado em 1976, o terceiro romance da escritora canadiana Margaret Atwood conhece agora uma nova edição portuguesa sob a alçada da Bertrand (a anterior versão é de 1993, pelo Círculo de Leitores), com o título Senhora Oráculo. Uma história de reinvenção, duplicidade, memória e redenção arquitectada por uma escritora fulgurante, vencedora do Booker Prize em 2000 e eterna candidata ao Nobel da Literatura.
Um Mundo Sem Regras, Amin Maalouf
Merecedor de destaque é também este ensaio do escritor e repórter libanês Amin Maalouf. Depois de Identidades Assassinas (1998), em que previu que a afirmação violenta das identidades religiosas, políticas e culturais traria consequências trágicas a um mundo em viragem de século, Maalouf alerta para as principais linhas de desregramento que estão a conduzir a humanidade a um vórtice. Desregramento, mais uma vez, intelectual, em que as afirmações identitárias são um entrave à colaboração entre civilizações; desregramento económico e financeiro, tendo as consequências com que agora o mundo se depara; e, por fim, desregramento climático, com o planeta em mudança, exigindo novos comportamentos e sensibilidades.
Maalouf deixa, apesar da análise devastadora, sugestões para a mudança e, sobretudo, aponta o momento histórico em que vivemos como uma possibilidade de evolução da humanidade, pela primeira vez unida na consciência de um destino comum.
Um Mundo Sem Regras é editado pela Difel.
Revista Big Ode #7
Interessante o mais recente número da revista de poesia e imagem Big Ode, projecto de Rodrigo Miragaia com colaborações, neste dossier dedicado ao Sublime, de poetas e artistas europeus e americanos. Destaque para o artigo central, sobre Arte Postal.